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SINAIS DE REVERÊNCIA NA LITURGIA OCIDENTAL

(aspectos práticos)

Alexandre Henrique Gruszynski*

O título até pode parecer redundante, pois reverência é uma expressão que eventualmente já designa um sinal. É um sinal com que se mostra reconhecer o valor ou o significado que uma pessoa ou um objeto merecem.

A Liturgia, em certa perspectiva é, toda ela, uma reverência, mas é possível, na sua realização, destacar sinais físicos, humanos, que de modo peculiar revelam (ou ao menos se destinam a revelar) esse respeito que o agente litúrgico tem para com tal pessoa, mesmo divina, ou tal coisa.

Alguns sinais de reverência são, se assim podemos dizer, estáticos, no sentido de que se apresentam com permanência, ou ao menos com estabilidade: manter uma vela acesa diante de um ícone; ter o texto do Evangelho impresso com primor e encadernado com requinte artístico; manter limpo o espaço litúrgico (também no sentido de não conter objetos estranhos ou que o sobrecarreguem); e assim por diante.

Os sinais de que se pretende falar neste escrito, porém, são os sinais corporais que os fiéis, ao participarem de uma celebração, põem em prática para manifestar sua relação de respeito.

Há quem diga que entre os sinais corporais básicos estão as atitudes[1].

Desde logo: ficar de [2] durante os ritos iniciais da celebração, ao canto da Aclamação ao Evangelho, ao escutar (ou, nas Vésperas e Laudes, proferir) um texto evangélico[3], durante as diversas Orações, na Profissão de Fé, ao comungar.

Ficar sentado para escutar as outras leituras bíblicas e a homilia.

Manter silêncio quando não for a hora de cantar ou falar, ou for a hora de se concentrar[4].

As atitudes são, assim, até mais importantes do que os gestos ou modos designados pela palavra sinal.

Entre os fiéis ocidentais, os sinais são basicamente a genuflexão e a inclinação.

A genuflexão[5], que se faz (com o tronco ereto) dobrando o joelho direito até o chão, tem o significado de adoração, e por isso mesmo é reservada ao Sacramento da Eucaristia, quer exposto quer recolhido no Sacrário. É feita, ademais, à santa Cruz, mas apenas desde a sua solene adoração no contexto da Celebração Vespertina da sexta-feira da Paixão do Senhor até o início da Vigília Pascal.

A inclinação[6] compreende duas modalidades (ou graus):

1) primeira é a simples inclinação da cabeça, que se faz ao nome da Trindade, de Jesus, da Santa Virgem Maria e ainda do Santo em cuja memória está sendo celebrada a Eucaristia ou a Liturgia das Horas.

2) a segunda é a inclinação do corpo (ou inclinação profunda), que se faz ao altar (em que não está presente o Sacramento da Eucaristia)[7]; ao Bispo; e antes e depois da incensação (como se verá adiante). Eventualmente algum livro litúrgico prevê inclinação profunda em determinada celebração.

Note-se que quem carrega, na procissão, um objeto que será utilizado na celebração (como a Cruz Processional, o Evangeliário, os castiçais) não faz nem genuflexão nem inclinação profunda[8]: faz inclinação simples, com exceção de quem porta o Evangeliário, que permanece ereto[9].

Todos os que entram na igreja devem expressar sua reverência ao Santíssimo Sacramento nela conservado, e isso ou dirigindo-se à Capela da Reserva Eucarística, ou, pelo menos, mediante a genuflexão[10].

Todos os que transitem diante do Santíssimo Sacramento, quer exposto quer recolhido a um Sacrário, devem fazer genuflexão[11], a não ser que estejam integrando uma Procissão (por exemplo, a de entrada ou de saída da celebração, ou a das oferendas, ou a da Comunhão).

O altar deve ser saudado mediante uma inclinação profunda tanto pelos que chegam ao presbitério como pelos que dele vão embora, ou ainda, pelos que passam diante dele[12]. Entretanto, se nesse altar estiver presente o Santíssimo Sacramento, quer guardado em um Sacrário ali localizado, quer exposto para adoração, quer ainda, durante a celebração eucarística, entre a consagração e o consumo ou recolhimento das eventuais sobras após distribuída a Comunhão, a reverência deverá ser a genuflexão.

Mas quem está portando o Corpo (e/ou o Sangue) do Senhor evidentemente não faz nenhuma reverência.

Ademais, junto ao altar o Sacerdote celebrante faz genuflexão após a apresentação do pão consagrado e do vinho consagrado, e mais uma vez antes da comunhão[13].

O Diácono que pede a bênção antes de proclamar o Evangelho faz inclinação profunda ao Celebrante[14]; este igualmente faz inclinação profunda ao altar se ele mesmo tiver de proclamar o Evangelho[15].

Numa concelebração presidida pelo Bispo, porém, se um dos presbíteros concelebrantes, por falta de diácono, tiver de proclamar o Evangelho, ele deve, em inclinação profunda, pedir a bênção do Bispo[16]; se não for o Bispo a presidir, a inclinação é ao altar[17] (com as palavras correspondentes).

Cabe especial atenção ao seguinte:

Ao chegarem, para iniciar a celebração, ao Presbitério onde se encontra Sacrário com o Santíssimo Sacramento, os participantes da Procissão de Entrada devem fazer genuflexão; semelhantemente ao deixarem tal Presbitério ao término da celebração.

A partir daí, entretanto, o centro da liturgia passa a ser o altar da celebração, e não o sacrário que não está sobre ele, de modo que durante a celebração só se faz a reverência (cabível) ao altar da celebração; não ao Sacrário alhures no Presbitério, muito menos se fora dele[18].

Por outro lado, Acólitos e Leitores, após chegarem ao Presbitério na procissão de entrada, devem ocupar lugares aí, no mesmo Presbitério. O que, naturalmente, há de se aplicar aos fiéis que, na falta de tais ministros legalmente instituídos, supram (enquanto lhes é permitido) as suas funções. Assim, também estes têm seu lugar no Presbitério. Se, em razão da disposição da igreja, ficam no limiar do Presbitério, numa área imediatamente ao lado, parece que se os deveria, pois, considerar já presentes no Presbitério e, portanto, não caberia fazerem nova reverência ao altar quando se achegam para fazer uma leitura ou para apanhar objetos na credência.

Já se vêm do meio dos demais fiéis, passando pelo altar, então sim, farão a este a reverência devida.

Em todo caso, não fazem reverência nem ao celebrante, nem ao ambão, nem ao livro, e isso nem antes nem depois de proferirem uma leitura (ou salmo).

Na Missa, o Sacerdote (além daquela ao pedir a bênção para proclamar o Evangelho) faz inclinação profunda às palavras E se encarnou…, na Profissão de fé[19], e ao altar, ao término da preparação dos dons (antes de lavar as mãos, ao dizer De coração contrito e humilde…)[20]. Também, no Cânon Romano, às palavras Nós vos suplicamos

O beijo no altar é também uma reverência, a ser praticada pelo celebrante (e pelos concelebrantes, se houver) e pelos diáconos ao chegarem ao presbitério, após a inclinação ou genuflexão[21]. O altar também é beijado na saída, logo após o Ide em paz…, mas não pelos concelebrantes, que apenas lhe fazem inclinação[22].

O Evangeliário é objeto de peculiares reverências:

1) na procissão de entrada é carregado, erguido, pelo Diácono, à frente dos demais clérigos[23]; na falta de Diácono pode ser levado por um dos concelebrantes, ou ainda por um dos Leitores[24];

2) é colocado, na chegada, fechado, sobre o altar;

3) durante a Aclamação ao Evangelho é retirado do altar por quem o proclamará e conduzido, elevado (sempre que possível com o acompanhamento de um par de velas e precedido pelo turíbulo) até o ambão[25];

4) no ambão, é, se possível, incensado por quem o proclamará[26];

5) ao término da proclamação, é beijado por quem o proclamou (pode sê-lo pelo Bispo Diocesano que estiver celebrando solenemente) e recolhido à credência ou a outro local nobre (não ao altar)[27].

Ao Bispo Diocesano, quando celebra, faz inclinação profunda o ministro que, em razão do serviço, a ele chega ou dele se afasta[28].

Incenso  Incensar é, também, uma expressão de reverência. Uma série de regras detalhadas[29] está estabelecida a respeito do seu uso nas celebrações[30].

As mais genéricas são estas:

1) antes e depois da incensação quem a realiza faz inclinação profunda à pessoa ou ao objeto incensado, exceto ao altar e às ofertas sobre ele colocadas e apresentadas[31];

2) o uso do incenso é obrigatório quando se faz exposição do Santíssimo Sacramento em ostensório[32];

3) o Santíssimo Sacramento é incensado de joelhos[33].

NOTAS:

* com a colaboração de Yandara Terezinha Araujo Conte.

[1] Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 42.

[2] Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 43.

[3] Cerimonial dos Bispos, n° 74.

[4] Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 32; n. 45; n. 54; n. 56; n. 66; n. 88; n. 128; n. 130; n. 136; n. 164.

[5] Cerimonial dos Bispos, n° 69.

[6] Cerimonial dos Bispos, n° 68.

[7] Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 49.

[8] Cerimonial dos Bispos, n° 70.

[9] Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 274.

[10] Cerimonial dos Bispos, n° 71.

[11] Cerimonial dos Bispos, n° 71.

[12] Cerimonial dos Bispos, n° 72; Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 122; n. 185.

[13] Missal Romano, Rito da Missa com o Povo, n. 91, 92, 104, 105, 111, 112, 120, 121, etc.; 133. Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 157.

[14] Missal Romano, Rito da Missa com o Povo, n. 11; Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 175.

[15] Missal Romano, Rito da Missa com o Povo, n. 11.

[16] Cerimonial dos Bispos, n. 74, in fine; n° 173.

[17] Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 132.

[18] Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 274.

[19] Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 137. Ajoelha no Natal do Senhor e na Solenidade da Anunciação do Senhor.

[20] Missal Romano, Rito da Missa com o Povo, n. 19; n. 22; n. 96; Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 143.

[21] Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 49; n. 123; n. 173

[22] Cerimonial dos Bispos, n° 73; Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 57, -d-; n. 169; n. 185; n. 211; n. 251.

[23] Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 172.

[24] Cerimonial dos Bispos, n° 74; Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 120, -d-; n. 194,

[25] Cerimonial dos Bispos, n° 74.

[26] Cerimonial dos Bispos, n° 74.

[27] Cerimonial dos Bispos, n° 141; Instrução Geral do Missal Romano (2000-2002), n. 175.

[28] Cerimonial dos Bispos, n° 76.

[29] Cerimonial dos Bispos, n° 84/98.

[30] Sobre as ações que cabem ao Diácono e ao Turiferário podem ser consultados, no blog liturgiaedireito.wordpress.com, os posts que sobre esses assuntos escrevi.

[31] Cerimonial dos Bispos, n° 91.

[32] Cerimonial dos Bispos, n° 87, -c-.

[33] Cerimonial dos Bispos, n° 94.